Árvore Seca - Heitor Rossato
17-08-2010 10:58Aquela árvore seca
desenhava um desespero
de mãos erguidas pro céu.
Sem flor, sem folha, sem fruto,
encravados na amplidão,
aqueles galhos de luto
eram gritos de oração.
Antes tempo...
num ponche vede de folhas,
num descampado solita,
foi a casa da esperança,
árvore moça e bonita,
teve músicas divinas com
perfumes de Vergel,
teve o baile das abelhas, teve,
nas flores vermelhas,
bocas com beijos de mel.
Mas um dia...
Houve briga lá no céu.
Houve facadas de fogo
com trovões no descampado...
E aquele viço tão lindo
foi murchando, se extinguindo,
e as folhas foram caindo
como lágrimas de árvore
chorando a dor de morrer.
Árvore murcha e ferida
no descampado tristonho
fez-se cadáver de sonho
sendo tapera da vida.
E lá ficaram chorando,
naquela árvore seca,
silhuetas de desespero
de mãos erguidas para o céu.
Quanta esperança morrendo
nas folhas secas do chão
e os galhos hirtos se erguendo
imploravam na aflição,
senão a glória da vida,
a esmola triste e dorida
de ao menos ter coração.
Ao menos ter coração
para escutar a saudade da
solidão infinita e não sentir-se
proscrita tombando morta no chão.
Para vencer a ilusão desse desejo
sem luz, de fazer dum galho a cruz,
do tronco o próprio caixão.
Por isso os galhos mirrados
ao céu estão levantados
implorando um coração.
Em resposta, desceu a benção do céu,
árvore seca deu flor, dois passarinhos
cantaram nos galhos, rindo, pousaram.
———
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