Borracho - Antônio Augusto Duarte Webber

17-08-2010 10:45

É com um pouco de tristeza
Que retrato esta figura
Que ainda hoje perdura
Nos bolichos de campanha:
Um índio solito, sem amor,
Se desfazendo da mágoa e da dor
Golpeando uns tragos de canha.

O velho primeiro copo,
Ao descer, a timidez espanta
E assim afina a garganta
Do payador buenacho.
Mas se o índio não se dá conta,
Logo está com a cabeça tonta
E atirado a um canto, borracho.

Como água cristalina,
No entanto muy maleva,
Num instante desce a treva
Sobre a consciência do gaudério
Que assim, embalado na canha,
Fala numa língua estranha
Desatinos fora do sério.

E se o bolicheiro é safado,
Desses assim meio judeus,
Pode então dizer adeus
Ao seu escasso dinheiro,
Porque atrás do balcão, numa mesa,
O bolicheiro aumenta a despesa
Do índio velho cachaceiro.

Dizem que sabedoria
É negócio pra doutor,
Mas também o bebedor
Precisa dela um pouco;
Esvaziar as garrafas da prateleira,
Beber até fazer asneira,
Não é para são; é para louco!

Por isso, findando estes versos,
Imploro ao Patrão Celestial
Que varra do mundo este mal,
A embriaguez de triste lembrança
E que os "Afilhados de Santo Onofre"
Tranquem suas mágoas num cofre
E as afoguem no rio da Esperança!

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