Lenda da Salamanca do Jarau

Lenda da Salamanca do Jarau

Quando caiu o último reduto árabe na Espanha, alguns mouros, falsamente convertidos em novos cristãos, buscaram morada na América. Ligados à alquimia, trouxeram com eles sua princesa e o desejo de aqui "alçar de novo a Meia-lua sobre a Estrela de Belém".
         Conta a lenda que: Anhangá-pitã, diabo vermelho dos índios, transformou a princesa moura em Teiniaguá, isto é, lagartixa. Diferente das demais por ter engastada na cabeça uma pedra preciosa, que cintilava como brasa e da cor do rubi.
         Na hora da sesta, na redução de São Tomé, o Sacristão encontrou a Teiniaguá junto da lagoa. Aprisionou-a numa guampa. Levou-a para seu quarto, "na casa grande dos Santos Padres." Guardou-a numa canastra. Agora o Santão sabia que poderia ser o homem mais rico do mundo. Alimentava-a com mel de lexiguana.
         A Teiniaguá, "rosa dos tesouros escondidos dentro da casca do mundo", transformava-se em mulher, "de corpo rijo e não tocado".
         "Estava escrito ... serás o meu par ... quando quebrado o encantamento do sangue de nós ambos nascer uma nova gente ... se a cruz do teu rosário não me esconjurar ..." Mesmo assim, o Santão amava e Teiniaguá, até que a mistura do mel com o vinho do Santo Sacrifício o embebedou.
         Descoberto, é condenado a morrer no garrote. O sino já dobrava finados quando a lagoa deu um ronco, rasgou-se até encontrar o rio Uruguai.
         O povo assustado retornou à cidade, que seria abatida por sete pragas, enquanto o Santão chegava até a barranca do rio e junto com a Teiniaguá iniciava seu fadário. Desceram na correnteza do Uruguai e por duzentos anos ficaram no Jarau, que foi " o paiol das riquezas de todas as Salamancas de outros lugares".
         Quem irá quebrar o encantamento é Blau Nunes, gaúcho pobre, que só tinha de seu um cavalo gordo, o fação afiado e as estradas reais".
         Campeando o Boi Barroso, Blau chega à furna do Jarau. Sabia sobre a lenda, que sua avó charrua contava. Encontrou e saudou em nome de Deus "o vulto de face tristonha e mui branca." Entrou na furna, passou pelas sete provas com "alma forte, coração sereno". Chegou até a Teiniaguá encantada. Rejeitou as sete escolhas oferecidas. Queria mais, muito mais. "Eu te queria a ti, porque tu és tudo." Voltou à boca da furna e memorou que: "tendo tido oferta de muito não lograra nada por querer tudo." Recebeu, do vulto de face branca e tristonha, uma onça de ouro, furada pelo condão mágico.
         O tempo passava e Blau cada vez mais rico e sozinho. "Churrasqueava solito, e solito mateava." Deu para cismar. Voltou ao cerro do Jarau e em nome de Deus saudou o vulto, devolvendo a moeda. Preferiu "a pobreza dantes à riqueza desta onça, que não se acaba, é verdade, mas que parece amaldiçoada, porque nunca tem parelha e separa o dono dos outros donos de onça ... Fica-te com Deus." Pela 3ª vez o nome do Senhor é pronunciado e assim quebra-se o encantamento.
         O Jarau ficou transparente e Blau Nunes viu as labaredas devorando "os brigões, os jaguares, os esqueletos, os anões, as lindas moças, a boicininga". "A velha carquincha transformou-se em Teiniaguá ... e a Teiniaguá na princesa moura ... a moura numa tapuia formosa ... o Sacristão, por sua vez, num guasca desempenado". "Aquele par, juntado e tangido pelo destino, foi descendo a pendente do coxilhão, até a várzea limpa, plana e verde ...".
         "Blau Nunes, deu de rédea e despacito foi baixando a encosta do cerro, com o coração aliviado ... era pobre como dantes, porém que comeria em paz o seu churrasco ... e em paz seu chimarrão, em paz a sua sesta, em paz a sua vida".

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